Capítulo 13
A ousadia do testemunho cristão (At 6,8-7,60)
Os cristãos são os verdadeiros intérpretes das Escrituras,
mostrando como o cristianismo nascente vai rompendo com o judaísmo cristalizado
numa religião opressora, a serviço dos poderosos.
Os cristãos têm o Espírito que ilumina sua mente e ação para
compreender o projeto de Deus. Não que as autoridades não compreendam. Elas
compreendem sim, mas vão contra.
Estêvão e a ousadia do testemunho (At 6,8-15)
Audácia
do testemunho -* 8
Cheio de graça e poder, Estêvão fazia grandes prodígios e
sinais entre o povo. 9 No entanto, alguns membros
da sinagoga dos Libertos, junto com cirenenses e alexandrinos, e alguns da
Cilícia e da Ásia começaram a discutir com Estêvão. 10 Mas
não conseguiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que Estêvão falava. 11
Então subornaram alguns indivíduos que disseram: «Ouvimos este homem
dizendo coisas blasfemas contra Moisés e contra Deus.» 12
Desse modo, incitaram o povo e os anciãos. Os doutores da Lei prenderam
Estêvão e o conduziram ao Sinédrio. 13 Aí
apresentaram falsas testemunhas que diziam: «Este homem não pára de falar
contra este lugar santo e contra a Lei. 14 De fato,
nós o ouvimos afirmar que Jesus, o Nazareu, destruirá este lugar e subverterá
os costumes que Moisés nos transmitiu.» 15 Todos os
que estavam sentados no Sinédrio tinham os olhos fixos sobre Estêvão e viram o
seu rosto como o rosto de um anjo.
A crítica de Estêvão era ao judaísmo que se fechara num
espírito de tribo: meu Deus é só meu Deus, e as únicas pessoas amigas são as
que pertencem à minha tribo (ou família, parentes, cidade, estado, país, raça,
cor).
Deus caminha com o povo (At 7,1-53)
Deus
caminha com o povo -* 1
Então o sumo sacerdote perguntou a Estêvão: «É verdade o
que estão falando?» 2 Estêvão respondeu: «Irmãos e
pais, escutem. O Deus da glória apareceu ao nosso pai Abraão quando ele ainda
estava na Mesopotâmia, antes que ele habitasse em Harã. 3
E lhe disse: ‘Saia da sua terra e da sua família e vá para a terra que eu
vou lhe mostrar.’ 4 Abraão saiu, então, da terra
dos caldeus e se estabeleceu em Harã. E depois da morte do pai, Deus o fez
emigrar daí para esta terra onde agora vocês moram. 5 Deus
não deu a ele nenhuma propriedade nesta terra, nem mesmo o espaço para ele
pousar o pé. Mas prometeu dá-la como posse para ele e para a sua descendência,
embora Abraão não tivesse filhos. 6 Deus falou
assim: ‘A descendência de Abraão será forasteira em terra estrangeira, será
escravizada e maltratada durante quatrocentos anos. 7 Mas
eu pedirei contas à nação da qual eles serão escravos. Depois disso, sairão
livres e me prestarão culto neste lugar.’ 8 Depois
Deus concedeu a Abraão a aliança da circuncisão. Desse modo, Abraão gerou Isaac
e o circuncidou no oitavo dia; Isaac gerou Jacó; e Jacó gerou os doze
patriarcas.
9
Os patriarcas, porém, por inveja venderam José como
escravo para o Egito. Mas Deus estava com ele 10 e
o libertou de todas as aflições, e lhe concedeu graça e sabedoria diante do
Faraó, rei do Egito. Este o nomeou administrador do Egito e de toda a sua casa.
11 Sobreveio então uma carestia em todo o Egito e
em Canaã; a miséria era grande e nossos pais não encontravam o que comer. 12
Sabendo que no Egito havia mantimentos, Jacó enviou para lá nossos pais
uma primeira vez. 13 Na segunda vez, José deu-se a
conhecer aos seus irmãos. E o Faraó ficou sabendo de que raça era José. 14
Então José mandou chamar seu pai Jacó e toda a sua família, ao todo
setenta e cinco pessoas. 15 Jacó desceu para o
Egito e aí morreu, como também nossos pais. 16 E
eles foram transportados para Siquém e colocados no sepulcro que Abraão tinha
comprado em Siquém, a preço de prata, dos filhos de Hemor.
17
Quando se aproximava o tempo de se realizar a promessa que
Deus tinha feito a Abraão, o povo cresceu e se multiplicou no Egito, 18
até que no Egito surgiu outro rei que não tinha conhecido José. 19
Esse rei, agindo com astúcia contra a nossa raça, perseguiu nossos pais e
os obrigou a abandonar os filhos recém-nascidos, para que não sobrevivessem. 20
Nesse tempo, nasceu Moisés, que era belo aos olhos de Deus. Durante três
meses Moisés foi criado na casa de seu pai. 21 Depois,
quando foi abandonado, a filha do Faraó o recolheu e o criou como seu próprio
filho. 22 Assim Moisés foi iniciado em toda a
sabedoria dos egípcios e era poderoso no falar e no agir.
23
Quando completou quarenta anos, Moisés desejou visitar
seus irmãos israelitas. 24 Vendo que um deles era
maltratado, tomou sua defesa e para vingá-lo matou o egípcio. 25
Ele acreditava que seus irmãos iriam compreender que Deus, por meio dele,
os libertaria; mas não compreenderam. 26 No dia
seguinte, Moisés se apresentou entre seus irmãos que brigavam e procurava
reconciliá-los, dizendo: ‘Vocês são irmãos. Por que estão prejudicando um ao
outro?’ 27 Nesse momento, aquele que estava
maltratando o companheiro contestou: ‘Quem o nomeou chefe ou juiz sobre nós? 28
Por acaso você quer me matar como fez ontem com o egípcio?’ 29
Ouvindo isso, Moisés fugiu e foi morar na região de Madiã, onde teve dois
filhos.
30
Quarenta anos depois, apareceu-lhe no deserto do monte
Sinai um anjo na chama de uma sarça que ardia. 31 Moisés
ficou admirado ao ver a aparição. Queria aproximar-se para ver melhor, quando
então se ouviu a voz do Senhor: 32 ‘Eu sou o Deus
de seus pais, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó’. Moisés tremia e não ousava
levantar os olhos. 33 Então o Senhor lhe disse:
‘Tire as sandálias dos pés, porque o lugar onde você está é terra santa. 34
Eu vi a miséria do meu povo no Egito. Ouvi o gemido deles e desci para o
libertar. Agora venha, pois eu quero mandar você ao Egito.’ 35
Assim, aquele Moisés que os israelitas haviam renegado, dizendo: ‘Quem o
nomeou chefe e juiz?’, Deus o enviou como chefe e libertador, por meio do anjo
que tinha aparecido a ele na sarça. 36 Foi ele que
os fez sair do Egito, realizando sinais e prodígios no Egito, no mar Vermelho e
durante quarenta anos no deserto. 37 Esse é o
Moisés que disse aos israelitas: ‘Deus suscitará entre os irmãos de vocês um
profeta como eu.’ 38 Foi ele, na assembléia do
deserto, quem serviu de intermediário entre o anjo que lhe falava no monte
Sinai e os nossos pais. Ele recebeu as palavras de vida, para transmiti-las a
nós. 39 Nossos pais, porém, não quiseram dar-lhe
ouvidos. Ao contrário, o rejeitaram e, no seu desejo, voltaram ao Egito, 40
dizendo a Aarão: ‘Faça para nós deuses que nos guiem, porque não sabemos
o que aconteceu com esse Moisés que nos tirou do Egito.’ 41
Naqueles dias, construíram um bezerro, ofereceram um sacrifício ao ídolo
e celebraram a obra de suas próprias mãos. 42 Então
Deus se afastou deles e deixou que adorassem os astros do céu, como está
escrito no livro dos profetas: ‘Por acaso, vocês me ofereceram vítimas e
sacrifícios durante quarenta anos no deserto, ó casa de Israel? 43
Pelo contrário, vocês carregaram a tenda de Moloc e a estrela do deus
Refã, imagens que vocês mesmos fabricaram para adorar. Por isso eu os
deportarei para além de Babilônia’.
44
Nossos pais no deserto tinham a Tenda da presença de Deus.
E Deus, que falava com Moisés, mandou que ele a construísse de acordo com o
modelo que tinha visto. 45 Nossos pais receberam a
Tenda e, sob a direção de Josué, a levaram para a terra das nações que Deus
expulsou diante de nossos pais. E a Tenda ficou ali até o tempo de Davi. 46
E Davi encontrou graça diante de Deus e lhe pediu permissão para construir
uma casa para o Deus de Jacó. 47 No entanto, foi
Salomão quem construiu a casa. 48 O Altíssimo,
porém, não mora em casa feita por mãos humanas, conforme diz o profeta: 49
‘O céu é o meu trono, e a terra é o lugar onde apóio os meus pés. Que
casa vocês construirão para mim?, diz o Senhor; e qual será o lugar do meu
descanso? 50 Não foi minha mão que fez todas essas
coisas?’
51
Homens teimosos, insensíveis e fechados à vontade de Deus!
Vocês sempre resistiram ao Espírito Santo. Vocês são como foram seus pais! 52
A qual dos profetas os pais de vocês não perseguiram? Eles mataram
aqueles que anunciavam a vinda do Justo, do qual agora vocês se tornaram traidores
e assassinos. 53 Vocês receberam a Lei, promulgada
através dos anjos, e não a observaram!»
É com Deus caminhando no seu meio que o povo constrói a
história, conquistando a Terra da liberdade e da vida.
O discípulo segue o caminho do Mestre (At 7,54-60)
O
discípulo não está acima do Mestre
-* 54 Ao ouvir essas palavras, eles ficaram
enfurecidos e rangeram os dentes contra Estêvão. 55 Repleto
do Espírito Santo, Estêvão olhou para o céu e viu a glória de Deus, e Jesus, de
pé, à direita de Deus. 56 Então disse: «Estou vendo
o céu aberto e o Filho do Homem, de pé à direita de Deus.» 57
Então eles deram fortes gritos, taparam os ouvidos e avançaram todos
juntos contra Estêvão. 58 Arrastaram-no para fora
da cidade e começaram a apedrejá-lo. As testemunhas deixaram seus mantos aos
pés de um jovem chamado Saulo. 59 Atiravam pedras
em Estêvão, que repetia esta invocação: «Senhor Jesus, recebe o meu espírito.» 60
Depois dobrou os joelhos e gritou forte: «Senhor, não os condenes por
este pecado.» E, ao dizer isso, adormeceu.
Estevão morre dizendo as mesmas palavras que Jesus (Lc
23,34.46 34
E Jesus dizia: «Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que estão fazendo!»
Depois repartiram a roupa de Jesus, fazendo sorteio. - 46
Então Jesus deu um forte grito: «Pai, em tuas mãos entrego o meu
espírito.» Dizendo isso, expirou. ), mostrando que o caminho de Jesus é o caminho do discípulo.
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