domingo, 21 de abril de 2013

A Igreja é Apostólica

 A Igreja é apostólica porque seu fundamento são os apóstolos; e isto em três sentidos complementares:

(I) A Igreja é apostólica porque sua fé é e será sempre fundamentada no testemunho dos Apóstolos, eles que foram escolhidos pelo Senhor e por eles enviados como suas testemunhas após a ressurreição:

Depois lhes disse: “Isto é o que vos dizia enquanto ainda estava convosco: é preciso que se cumpra tudo o que está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos a meu respeito”. Então Jesus abriu-lhes a inteligência para compreenderem as Escrituras, e lhes disse: “Assim estava escrito que o Cristo haveria de sofrer e ao terceiro dia ressuscitar dos mortos e, começando por Jerusalém, em seu nome seria pregada a todas as nações a conversão para o perdão dos pecados. Vós sois testemunhas disso. Eu vos mandarei aquele que meu Pai prometeu. Por isso, permanecei na cidade até que sejais revestidos da força do alto” (Lc 24,44ss).

Mas recebereis a força, o Espírito Santo que virá sobre vós; e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, até os confins da terra (At 1,8).

Não sou livre? Não sou apóstolo? Não vi Jesus Nosso Senhor? Não sois vós minha obra no Senhor? Se para outros não sou apóstolo, ao menos para vós o sou, pois sois o selo do meu apostolado no Senhor (1Cor 9,1s).

Estais edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, do qual é Cristo Jesus a pedra angular (Ef 2,20).

(II) A Igreja é apostólica porque, como Cristo prometeu, é conservada na verdade da fé pregada e vivida pelos apóstolos, graças à ação do Espírito dado pelo Senhor Jesus:
Quem vos ouve a mim ouve, e quem vos rejeita a mim rejeita, e quem me rejeita também rejeita aquele que me enviou (Lc 10,16).

Disse-vos estas coisas enquanto estou convosco. Mas o Paráclito, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos trará à memória tudo quanto eu vos disse (Jo 14,25s).

Quando vier o Espírito da verdade, ele vos guiará em toda a verdade, porque não falará de si mesmo, mas do que ouvir, e vos anunciará as coisas futuras. Ele me glorificará porque receberá do que é meu e vos anunciará. Tudo que o Pai tem é meu. É por isso que eu disse: receberá do que é meu e vos anunciará (16,13-14).

“Eu te digo que tu és Pedro (= Pedra), e sobre esta Pedra edificarei minha Igreja, e as portas do Inferno nunca prevalecerão contra ela (Mt 16,18).

Os apóstolos e os anciãos ... saudações! De fato, pareceu bem ao Espírito Santo e a nós... (At 15,23.28).

Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, às reuniões em comum, ao partir do pão e às orações (At 2,42).

Recordo-vos, irmãos, o Evangelho que vos tenho pregado e recebestes, no qual estais firmes. Por ele sereis salvos, se o conservardes como eu vos preguei. De outra forma em vão tereis abraçado a fé (1Cor 15,1s).

Mantém o modelo das palavras salutares que de mim recebeste, inspiradas na fé e na caridade em Cristo Jesus. Guarda o depósito precioso pela virtude do Espírito Santo, que habita em nós (2Tm 1,13s).

(III) A Igreja é apostólica porque, até que Cristo retorne, continuará sendo dirigida pelos legítimos sucessores dos apóstolos, dentro duma sucessão apostólica ininterrupta. Eis alguns elementos que nos ajudam a compreender tal processo:

·       Cristo prometeu à sua Igreja que não a abandonaria e, concretamente, deu-lhe o ministério apostólico como instituição perene para o ministério da santificação, da direção e da pregação:

Estais edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus (Ef 2,20).

Isso aparece muito claro já na própria preocupação dos apóstolos em constituir varões apostólicos, como Tito, Timóteo, Silas, João Marcos, Barnabé, Clemente Romano, Inácio de Antioquia, etc... para auxiliá-los e sucedê-los pelo rito da imposição das mãos, que confere o Espírito Santo:

Olhai por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu epíscopos, para apascentardes a Igreja de Deus, que ele adquiriu com seu sangue. Sei que, depois de minha partida, virão a vós lobos vorazes que não pouparão o rebanho e, dentre vós mesmos, se levantarão homens que ensinarão doutrinas perversas, para arrastar os discípulos consigo (At 20,28ss).

Ninguém te desconsidere a juventude. Ao contrário, torna-te modelo para os fiéis no modo de falar e de viver, na caridade, na fé, na castidade. Enquanto eu não chegar, aplica-te à leitura, à exortação, ao ensino. Não te descuides do dom da graça que há em ti, que te foi conferido no meio de intervenção profética, quando o presbitério te impôs as mãos. Põe nisto toda a diligência e empenho de modo que se torne manifesto para todos teu aproveitamento. Olha por ti e pela instrução dos outros com insistência (1Tm 4,12ss). 

Eu te exorto a reavivar o dom de Deus que há em ti pela imposição das minhas mãos. Guarda o bom depósito, por meio do Espírito Santo que habita em nós (2Tm 1,6.14).

A Tito, meu filho verdadeiro, pela mesma fé, a graça e a paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Salvador. Eu te deixei em Creta para acabares de organizar tudo e colocar presbíteros em cada cidade, de acordo com as normas dadas por mim (Tt 1,4s).

Neste sentido, vale a pena analisar com cuidado 2Tm 2,2:

O que de mim ouviste na presença de muitas testemunhas, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para ensina-lo a outros.

Aparecem aqui claramente os três elementos necessários para que se possa falar de uma verdadeira e própria sucessão apostólica: a) a sucessão ininterrupta das pessoas que formam uma cadeia, b) o idêntico depósito, c) a fiel transmissão deste de uma pessoa a outra da cadeia. A este respeito é muito importante observar o testemunho das primeiríssimas gerações cristãs, guardado com amor e fidelidade por todas as Igrejas apostólicas: católicos, ortodoxos, coptas, armênios, etíopes, etc. Baste-nos, como exemplo, o que escreve São Clemente Romano, discípulo de São Paulo (cf. Fl 4,3), aos coríntios, no século I:

Também os nossos apóstolos sabiam, através do Senhor nosso, Jesus Cristo, que surgiriam contestações a propósito do ofício episcopal. Por este motivo, sabendo com antecedência esse conhecimento, estabeleceram aqueles (homens apostólicos) de quem falamos e ao mesmo tempo emanaram uma lei pela qual, uma vez mortos, outros homens provados no seu ofício lhes sucedessem. Homens, portanto, estabelecidos pelos apóstolos e, depois, por outros homens ilustres, com o consenso de toda a Igreja.

E também o que escreve Santo Irineu, bispo de Lião (séc. II), discípulo de São Policarpo de Esmirna, que foi discípulo de São João Evangelista, apóstolo do Senhor:

A tradição dos apóstolos, manifestada em todo o mundo, pode ser comprovada em toda Igreja por aqueles que desejam conhecer a verdade. Podemos aqui os bispos estabelecidos pelos apóstolos e os seus sucessores até nós: estes não ensinaram nem conheceram aquilo que aqueles outros (= os hereges gnósticos) vão delirando... Mas porque é muito longo enumerar em um volume como este as sucessão de todas as Igrejas, vamos nos limitar à Igreja maior e mais antiga, conhecida por todos, fundada e construída em Roma pelos gloriosíssimos apóstolos Pedro e Paulo e, indicando a sua tradição, recebida pelos apóstolos e chegada a nós através da sucessão de seus bispos, confundiremos aqueles que por complacência de si mesmos ou por vanglória, por cegueira ou erro se afastam da unidade da Igreja.

·       A própria Tradição da Igreja, primeiro oral, depois colocada por escrito nos livros do Novo Testamento, era e é constantemente supervisionada pelos legítimos sucessores dos apóstolos:

Quando parti para a Macedônia, pedi que ficasses em Éfeso a convencer alguns a não ensinarem doutrinas extravagantes nem a se ocuparem de mitos e genealogias intermináveis. Tais coisas servem mais para ocasionar disputas do que para promover o plano de salvação de Deus na fé (1Tm 1,3s).

Eis a instrução que te dou, meu filho Timóteo, conforme as profecias que antes foram feitas a teu respeito: amparado nelas sustenta o bom combate com fé e boa consciência. Alguns, que a rejeitaram, naufragaram na fé. É o caso de Himeneu e Alexandre, que entreguei a Satanás para aprenderem a não blasfemar (1Tm 1,18ss).

Como homem de Deus, foge destas coisas. Segue a justiça, a piedade, a fé, a caridade, a paciência, a mansidão. Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual foste chamado e da qual fizeste solene profissão diante de muitas testemunhas. Eu te recomendo diante de Deus, que faz viver todas as coisas, diante de Cristo Jesus, que diante de Pilatos testemunhou abertamente a verdade, que te conserves sem mancha nem culpa no mandato, até à manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ó Timóteo, guarda o depósito que te foi confiado. Evita as conversas frívolas de coisas vãs e as contradições da falsa ciência. Alguns, por segui-las, se transviaram da fé. (1Tm 6,11-14.20s).

Mantém o modelo das palavras salutares que de mim recebeste, inspiradas na fé e na caridade em Cristo Jesus. Guarda o depósito precioso pela virtude do Espírito Santo, que habita em nós (2Tm 1,13s).

Lembra-lhes tais coisas e conjura-os por Deus a evitarem discussões vãs, que de nada servem a não ser para a perdição dos ouvintes. Empenha-te em apresentar-te diante de Deus como homem digno de aprovação, como operário que não tem de que se envergonhar, mas expõe corretamente a palavra da verdade (2Tm 2,14).

Tu, porém, permanece fiel ao que aprendeste e que é tua convicção, considerando de quem o aprendeste. Desde a infância conheces as Sagradas Escrituras e sabes que podem instruir-te para a salvação pela fé em Cristo Jesus. Pois toda Escritura é divinamente inspirada e útil para ensinar, para repreender, para corrigir, para educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e capacitado para toda boa obra.

Conjuro-te diante de Deus e de Cristo Jesus, que julgará os vivos e os mortos, pela sua aparição e por seu reino: prega a palavra, insiste oportuna e inoportunamente, repreende, ameaça, exorta com toda a paciência e empenho de instruir. Porque virá tempo em que os homens já não suportarão a sã doutrina. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidade, arregimentarão mestres e afastarão os ouvidos da verdade a fim de voltá-los para os mitos. Tu, porém, sê prudente em tudo, suporta os trabalhos, pratica obra de pregador do Evangelho, cumpre teu ministério (2Tm 3,14 – 4,5).

O teu ensino, porém, seja conforme à sã doutrina (Tt 2,1).

·       É precisamente neste ofício apostólico que se insere também o ministério de Pedro. Todas as grandes tradições do Novo Testamento (os evangelhos sinóticos, o Quarto Evangelho, os Atos, os escritos paulinos) atestam e afirmam o primado do apóstolo Pedro. Uma tal importância deixada em testemunho para todas as gerações seguintes, mostra – e a tradição da Igreja confirma sem interrupção! – o papel apostólico do ministério petrino. Eis alguns exemplos:

Mc 3,16; Mt 10,2; Lc 6,14: “Primeiro Simão, também chamado Pedro”;
Jo 1,42: Simão, chamado Cefas
Mt 16,13-19: Pedro, a Pedra da Igreja, com poder de ligar e desligar;
Lc 22,31s: Pedro encarregado de confirmar os irmãos;
Lc 24,33s: o Senhor apareceu a Simão;
1Cor 15,3ss: apareceu a Cefas e depois aos Onze;
Jo 20,1-9: Pedro entra primeiro no sepulcro;
Jo 21,15ss: o Senhor entrega a Pedro seu rebanho;
At 2,14: Pedro com os Onze em Pentecostes;
At 1,15ss: Pedro preside à eleição de Matias;
At 5,1ss: Pedro pune Ananias e Safira;
At 10: Pedro é o primeiro a introduzir um grupo pagão na Igreja;
Gl 1,18-20: Paulo foi a Jerusalém para ver Cefas;
Gl 2,1-10: Paulo vai conferir seu Evangelho com Tiago de Jerusalém e Cefas, chefe da Igreja.

A constante Tradição da Igreja interpretou o ministério de Pedro como uma realidade que pertence à Igreja de Cristo e deverá permanecer até o fim. Eis somente um exemplo:

Os bem-aventurados apóstolos que fundaram a Igreja romana transmitiram seu governo episcopal a Lino, que Paulo recorda na Carta a Timóteo (cf. 2Tm 4,21). Lino teve como sucessor Anacleto e depois de Anacleto foi Clemente, terceiro a partir dos apóstolos. Clemente tinha visto os bem-aventurados apóstolos, teve relação com eles (cf. Fl 4,3), conservava nos ouvidos a pregação deles e diante dos olhos a sua tradição. No seu tempo, portanto, ainda viviam muitos daqueles que foram ensinados pelos apóstolos... A Clemente sucedeu Evaristo, a Evaristo, Alexandre. O sexto após os apóstolos foi Sixto... Com esta ordem e sucessão chegou até nós na Igreja a Tradição apostólica e a pregação da verdade. Isto prova plenamente que foi conservada e transmistida fielmente pelos apóstolos a mesma, única e viva fé! (Eusébio, Bispo de Cesaréia, séc. IV)
Assim, ao Colégio dos Doze, tendo Pedro à frente, sucedeu o Colégio dos Bispos (= Epíscopos), tendo o Sucessor de Pedro à frente. Se toda a Igreja é sucessora da Comunidade apostólica, há, sem duvida nenhuma, um órgão ministerial que garante, sob o Espírito Santo, a Igreja na sucessão apostólica legítima e ininterrupta: o ministério episcopal, tento como centro de sua comunhão visível, o Bispo de Roma, sucessor de Pedro! A apostolicidade da Igreja não é, portanto, um conceito abstrato, aéreo ou subjetivo, mas uma realidade firmemente ancorada nas Escrituras, na Tradição ininterrupta da Igreja e na própria história.

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