quinta-feira, 18 de abril de 2013

A Igreja é Santa




A santidade da Igreja é clara no Novo Testamento. Já o povo de Israel era considerado santo, quer dizer, separado por Deus e para Deus:

Vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa (Ex 19,6).

A Igreja, como já vimos, nasceu de Cristo, o Santo de Deus (cf. Lc 1,35); ele, doando aos seus discípulos o Espírito de Santidade, santificou sua Igreja:

Pai, santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade... Por eles, a mim mesmo me santifico, para que sejam santificados na verdade (Jo 17,17.19).

É graças a esta vontade é que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todos. De fato, com esta única oferenda, levou à perfeição, e para sempre, os que ele santifica (Hb 10,10.14)

Dizer que a Igreja é santa é dizer que ela é totalmente separada para Cristo e com Cristo na potência do Espírito para a glória do Pai, é dizer que ela pertence totalmente a Cristo, pelo Espírito que a penetra, invade, vivifica e dirige: 


Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de purificá-la com o banho da água e santificá-la pela Palavra, para apresentar a si mesmo a Igreja, gloriosa, sem mancha nem ruga, ou coisa semelhante, mas santa e irrepreensível (Ef 5,26s).

Por isso, a Escritura pode dizer, falando da Igreja:

Mas vós sois uma raça eleita, um sacerdócio régio, uma nação santa, o povo de sua particular propriedade, para apregoar os grandes feitos daquele que vos chamou das trevas para a sua luz admirável (1Pd 2,9).

É importante compreender que é Cristo quem santifica a Igreja, é ele a fonte de sua santidade, porque lhe dá seu Espírito Santo:

Quando a bondade e o amor de Deus, nosso Salvador, se manifestaram, ele salvou-nos, não por causa dos atos justos que houvéssemos praticado, mas porque, por sua misericórdia, fomos lavados pelo poder regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele ricamente derramou sobre nós, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que fôssemos justificados pela sua graça, e nos tornássemos herdeiros da esperança da vida eterna (Tt 3,4-7).

Mas fostes lavados, mas fostes santificados, mas fostes justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito do nosso Deus (1Cor 6,11).

É porque a Igreja é santificada pelo seu Espírito, sobretudo através da Palavra e dos sacramentos, que os seus membros são chamados santos (= santificados).
À Igreja de Deus, que está em Corinto, àqueles que foram santificados em Cristo Jesus, chamados a ser santos... (1Cor 1,2)

Então, a Igreja não é santa porque somos santos ou santinhos; ela é santa porque Cristo a santifica com seu Espírito, e porque nela fomos santificado pela Palavra e os sacramentos (sobretudo o batismo e a eucaristia), somos chamados santos (= santificados)! Esta santidade, tanto na Igreja quanto em nós, é real, mas deve ir crescendo sempre: santos e chamados a ser santos! Esta santidade é também indefectível (= não pode ser perdida!), já que o Espírito Santo permanecerá sempre agindo na Igreja:

Eu rogarei ao Pai e ele vos dará outro Paráclito, para que convosco permaneça para sempre, o Espírito da Verdade, que o mundo não pode acolher, porque não o vê nem o conhece. Vós o conheceis, porque permanece convosco (Jo 14,16s).

Por isso, falando da sua Igreja, Jesus disse a Pedro:

As portas do inferno nunca prevalecerão contra ela (Mt 16,18).

Afirmar que a Igreja não é santa, seria contradizer clara e gravemente o próprio Cristo e negar a ação do Espírito na comunidade dos discípulos. Dizer que a Igreja perdeu a santidade é negar a fidelidade de Cristo e blasfemar gravemente contra o Espírito, ele que é a própria santidade divina na Igreja do Senhor!

Esta Igreja, que é santa, é formada por pecadores. Basta, como exemplo, pensar na Primeira Epístola aos Coríntios. Aí, após chamar de “santos” os membros da Igreja coríntia, São Paulo passa a falar dos tantos e tantos escândalos na Comunidade: as divisões entre os fiéis (cf. 1,10-16), os casos de imoralidade (cf. 5,1-13; 6,12-19), as disputas levadas aos tribunais pagãos (cf. 6,1-11), etc. A Igreja é santa e é uma comunidade de santificados, chamados a agir como tais... mas não é uma comunidade de santinhos e certinhos. Ela reúne em seu seio santos e pecadores, contudo, quem persevera no pecado, é membro da Igreja somente de modo exterior e não segundo o Espírito de Santidade!


Uma última observação: já dissemos que os sacramentos são o modo principal pelo qual o Senhor Jesus, no Espírito Santo, santifica sua Igreja: eles, celebrados na força do Espírito, dão-nos a graça santificante do Cristo Jesus:

Ou ignorais que todos nós, batizados em Cristo Jesus, é na sua morte que fomos batizados? Com ele fomos sepultados pelo batismo na morte para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim também andemos em novidade de vida. Pois, se estamos nos tornamos uma só coisa com ele por uma morte semelhante à sua, seremos uma coisa só com ele também por uma ressurreição semelhante à sua. Sabendo que nosso velho homem foi crucificado para que fosse destruído o corpo de pecado e já não servíssemos ao pecado (Rm 6,3ss).

Porque minha carne é verdadeiramente comida e meu sangue é verdadeiramente bebida. Quem come minha carne e bebe meu sangue permanece em mim, e eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim também quem comer de minha carne viverá por mim (Jo 6,55ss).

Também a Palavra proclamada santifica continuamente a Igreja, já que é proclamada na potência do Espírito Santo:

Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de purificá-la com o banho da água e santificá-la pela Palavra, para apresentar a si mesmo a Igreja, gloriosa, sem mancha nem ruga, ou coisa semelhante, mas santa e irrepreensível (Ef 5,26s).

Por tudo isso, a Igreja, desde as mais antigas épocas é chamada Comunhão dos Santos!

quarta-feira, 17 de abril de 2013

A Igreja é Una





A Igreja de Cristo é una e não poderia deixar de sê-lo:
·       una, porque brota do Deus que é trino na unidade perfeita e é a realização na história e no mundo do seu único plano de amor e salvação:

Há diversidade de dons mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades mas um mesmo é Deus que realiza todas as coisas em todos (1Cor 12,4ss).

·       una, porque um só é o seu Fundador, que sonhou com sua Igreja como o único rebanho (cf. Jo 10,16), seu único corpo (cf. 1Cor 12,12s); o único templo pleno do seu Espírito, do qual ele mesmo, Cristo, é a pedra angular (cf. Ef 2,20s).

·       una, porque a missão de Cristo Jesus era congregar na unidade os filhos de Deus dispersos:

Jesus iria morrer... para congregar na unidade os filhos de Deus dispersos
(Jo 11,52).

O Filho Jesus veio para
criar em si mesmo um só Homem Novo (Ef 2,15).

Por isso, de modo comovente, o Senhor Jesus rezou pela unidade de sua Igreja e deu-lhe esta unidade como dom irrevogável:

Não rogo somente por eles, mas pelos que, por meio de sua palavra, crerão em mim: a fim de que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, que eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes dei a glória que tu me deste para que sejam um, como nós somos um: eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e para que o mundo reconheça que me enviaste e os amaste como amaste a mim (Jo 17,20-23).

·       una na mesma fé, no mesmo Senhor, no mesmo batismo, na mesma vida de unidade:

Há um só Corpo e um só Espírito, assim como fostes chamados por vossa vocação para uma só esperança. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo.  Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, por todos e em todos (Ef 4,4ss).

Os que receberam a palavra se batizaram, e naquele dia se converteram umas três mil pessoas. Eles mostravam-se assíduos à doutrina dos apóstolos, às reuniões em comum, ao partir do pão e às orações (At 2,42).
Esta unidade, que é dom de Cristo e fruto do Espírito, não pode ser perdida, apesar de tantas feridas na história da Igreja: os cismas, as heresias e as apostasias. Dessas feridas todos os cristãos são culpados e são sinal de uma grave infidelidade ao Senhor Jesus! Por isso mesmo, Cristo Senhor, além de ter dado o Espírito Santo como artífice primário e invisível da unidade eclesial, dotou sua Igreja de elementos visíveis que realizam e significam esta unidade no Espírito: a única Eucaristia, o único Colégio apostólico sucedido pelo Colégio dos Bispos e o ministério de Pedro, sobre os quais falaremos mais adiante.

É indispensável deixar claro que jamais Cristo pensou em diversas igrejas, nem a comunidade apostólica admitiu divisão de doutrina ou separação entre as comunidades:

A multidão dos que haviam crido era um só coração e uma só alma (At 4,32). 

Exorto-vos, irmãos, pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo: Sede todos unânimes no falar, e não haja entre vós divisões, antes sede concordes no mesmo pensar e no mesmo sentir (1Cor 1,10).

Eu me admiro que passastes tão depressa daquele que vos chamou à graça de Cristo, para um outro evangelho. De fato, não há dois evangelhos. O que há, são pessoas que semeiam a confusão entre vós e pretendem deturpar o Evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo descido do céu vos anuncie um evangelho diferente do que vos anunciamos, que seja anátema. Eu já vo-lo disse antes, e agora repito: se alguém vos pregar outro evangelho diferente do que recebestes, seja anátema (Gl 1,6-9).

Pelo conforto que há em Cristo, pela consolação que há no Amor, pela comunhão no Espírito, por toda ternura e compaixão, completai minha alegria, permanecendo unidos no mesmo pensar, no mesmo amor, no mesmo ânimo, no mesmo sentir (Fl 2,1s).

Quem ensina doutrinas estranhas e discorda das palavras salutares de Nosso Senhor Jesus Cristo e da doutrina conforme à piedade, é um obcecado pelo orgulho, um ignorante que morbidamente se compraz em questões e discussões de palavras. Daí é que nascem invejas, contendas, insultos, suspeitas, porfias de homens com mente corrompida e privados da verdade que fazem da piedade assunto de lucro (1Tm 6,3-5).

São numerosos os textos do Novo Testamento que deixam claro que a Igreja é una e deve viver na unidade: 2Ts 3,6;1Tm 3,15; 4,16; 6,3-5.14.20s; 2Tm 2,14; 2,20-26; 3,13-14; 4,3-5; Tt 1,10-11. As faltas contra a unidade da Comunidade na mesma fé e na mesma caridade são repreendidas com dureza pelos apóstolos! Exatamente porque povo de Deus, corpo de Cristo e templo do Espírito, a Igreja é una e única. O Concílio Vaticano II, recolhendo a doutrina sempre presente na Igreja ensinou de modo admirável:

Assim, a Igreja, única grei de Deus, como um sinal levantado entre as nações, administrando o Evangelho da paz para todo o gênero humano, peregrina na esperança, rumo à meta da pátria celeste. Este é o sagrado mistério da unidade da Igreja, em Cristo e por Cristo, realizando o Espírito Santo a variedade dos ministérios. Deste mistério o supremo modelo e princípio é a unidade de um só Deus, o Pai e o Filho no Espírito Santo, na Trindade das pessoas (UR 2ef).