quinta-feira, 22 de setembro de 2016

A BÍBLIA: UM LIVRO DE GENTE QUE CAMINHA



A Bíblia não deve ser vista apenas como uma longa história, cujo enredo vai da criação à consumação do mundo. Ela é, antes de tudo, uma coleção de reflexões sobre as mais variadas experiências de fé, interpretadas e verbalizadas de mil maneiras diferentes e complementares.

No princípio, era um punhado de gente simples, que não possuía quase nada; até para conversar tinha pouco assunto.

Foi crescendo: simples, sem muitos bens, e ainda com pouco assunto. Mas foram acontecendo coisas importantes em suas vidas: vários grupos tiveram de emigrar; por algum tempo prosperaram; depois, foram oprimidos; muitos conseguiram escapar. Em tudo isto, aprenderam a se virar; a reparar e a comparar; a ver Deus em suas vidas. Criaram cantos, contos e celebrações, frutos de sua fé e estímulo para o seu crescimento.

A família grande virou tribo, depois confederação de tribos e, enfim, nação governada por reis. Já haviam passado vários séculos. Muitos já não eram mais tão simples; deu-se o início a uma literatura. Que é que escreveram? A vida do povo: suas iniciativas e lutas, suas reflexões e manifestações, sua fé. Era o começo daquilo que, mais tarde, veio a ser chamado de “Bíblia”. Claro, o povo continuou a se virar, a reparar e a comparar, a ver Deus em suas vidas; a criar cantos, contos e celebrações; a cultivar sua fé, a lutar pela sua dignidade. E a Bíblia continuou a ser vivida e também escrita por mais 900 anos.

E ajudou o povo a se virar, a reparar e a comparar, a ver Deus em suas vidas; a criar cantos, contos e celebrações, a cultivar a sua fé, a lutar pela sua dignidade.

Aí apareceu uma pessoa impressionante, diferente até das mais profundamente humanas que vieram antes dele: Jesus de Nazaré. Era tão transparente em sua bondade e dedicação, principalmente aos sofredores, que nele se manifestava, em toda a sua densidade, o amor de Deus para com os homens. No conflito com a maldade humana, Jesus foi morto. Mas não foi eliminado. Seus discípulos testemunharam que Deus lhe deu nova vida; que ele está presente na comunidade dos que creem.

Nessa comunidade, os antigos livros da Bíblia foram lidos sob nova luz; outros foram-lhes acrescentados, sempre tendo no centro a figura de Jesus.

Finalmente, a grande comunidade de fé cristã julgou encerrada a fase de sua fundação. A Bíblia estava completa. Continuará a ser lida com a mesma fé, mas de maneira sempre nova, alimentando a busca de uma nova sociedade que respeite o homem e honre a Deus; ajudando o povo a se virar, a reparar e a comparar, a ver Deus em sua vida; a criar cantos, contos e celebrações; a cultivar sua fé e a lutar por sua dignidade.

W. Grüen em:

“O tempo que se chama hoje”- 1977.

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